sábado, 25 de setembro de 2010

O Cachorro Criminoso


“O primeiro é negro. Ainda não tem nome, só o chamamos de pretinho (em razão do tamanho singelo). A veterinária disse que, dos cinco, é o mais vira-lata. Provavelmente ninguém irá querer adotá-lo e, se isso acontecer, fico com ele. Será o meu pretinho” (Postagem Original em 28/07/2009).


A veterinária estava certa, e eu predestinado! Dos cinco que nasceram ele é o mais vira-lata. Confesso que quando escrevi que ficaria com ele na verdade eu nunca pensei nesta possibilidade. Ele superou as expectativas, no sentido negativo, é claro!


Ora, não é que este “pretinho” não foi adotado por ninguém e acabou por ficar comigo?


No início ele se comportou muito bem, mas com o passar do tempo foi mostrando a sua verdadeira face sanguinolenta. Aposto que vocês não imaginam o que ela anda fazendo. Adianto que ele se transformou em péssima influência para os demais cachorros.


Antes de contar suas peripécias, acho importante comentar que, apesar de ter recebido o nome de Dudu, ele é chamado por todos pelo nome de “Preto”. Dudu não coube bem nele, pois se refere a um animal carinho e dócil. O Preto não é, acreditem, carinhoso e muito menos dócil! Não que ele seja violento com as pessoas. Na verdade ele é bem tranqüilo neste sentido. A fixação dele é por galinhas, brancas ou pretas...
Bom, passo a contar o inferno gerado pelo “Pretinho”.


Sempre quando de minhas visitas à chácara recebia as lamentações insistentes do caseiro: “Dr. Rafael, o cachorro preto é um demônio! Ele está acabando com as galinhas, temos que fazer alguma coisa!!”.

O meu impulso inicial foi o de refutar aquelas acusações. Defendi aquele cachorro acreditando que ele era inocente. Ledo engano o meu. Como fui ingênuo!


O tempo passou e com ele perduraram as lamentações.


Eu contemporizava, dizendo que as imputações eram inverídicas e que não haviam provas a respeito.


Fingia não acreditar, até que em certa data flagrei o crime anunciado. Ele (O Preto), ao ser solto pela manhã como de costume, correu com um atleta em busca da medalha de ouro pelo chão batido do interior. No desenvolvimento de sua corrida, abriu sua bocarra que fisgou de uma só vez uma das galinhas que ciscavam ingenuamente. Não houve tempo para socorro. O crime já havia sido consumado, e a galinha, consumida.


O pior de tudo foi que o tal do caseiro estava ao meu lado e acompanhou tudo, olhando-me com um sorriso sarcástico. Foi a gota d água! A solução tomada foi o encarceramento do cachorro criminoso. A ordem dada foi de não soltá-lo até segunda ordem. Insistiram pela sua doação ou sacrifício. Eu, é claro, não aceitei.


Ninguém pode me acusar de maus-tratos. Procurei na internet diversos métodos que cessassem o desejo de sangue pelo cachorro criminoso, mas nenhum dele funcionou.


Depois de alguns meses decidi por dar um indulto ao animal. Bastaram cinco minutos para que outra morte acontecesse. Confesso que desisti de sua recuperação, mas ainda aceito idéias a respeito. Esta é a saga do cachorro criminoso.