terça-feira, 15 de março de 2011

DEVANEIOS




Ode àquela Flor

Eu sou um sujeito indefinido, meio abstrato e subentendido. Só não aceito ser inexistente. Meu pretérito é imperfeito e o futuro subjetivo. O sentimento que carrego no peito, porém, é uma locução adverbial sem tempo e sem sentido. Sem forma e sem compromisso. Existe apenas por existir e para completar a oração.


Não sou e nem pretendo ser o preferido, basta para mim a sublime coordenação sintática e o perfeito uso do verbo. Tanto faz a sua natureza. Pode ser regular, irregular, auxiliar ou principal. O importante é que seja amar e que seja conjugado no presente do indicativo.


Não tente me analisar. Minha sintaxe é complexa e perigosa. Basta me entender, pois sei que me faço compreender. Não importa a concordância nominal, pois tanto faz! Ela, Ela, Ela, Ela. Pronome definido da terceira pessoa. Terceira pessoa tão próxima e tão distante.


Ó uva da fábula de La Fontaine. Como queria tê-la por inteiro. Mas estás tão distante, tão difícil, tão saborosa. Pena não ter me havido a conclusão da raposa de Esopo. Não consigo deixar de desejá-la, nem tampouco tenho forças para depreciá-la. Fico então assim, a desejar-te inerte e sem juízo.


Exuberante flor do Lácio, perdoe-me se minha ortografia nem sempre traduz a mais correta perfeição. Meu alfabeto é completo, mas me falta a razão para aglutinar todas as suas vogais e consoantes. Não tenho também régua ou compasso para medir estrofes e rigores formais. Tenho o coração aberto e ferido, impassível de razão e da exatidão das formas. Basta-me o deslumbramento, a fixação, a paixão que transborda.


Se a conjunção é palavra variável, uso-a para ligar nossas orações. Não se preocupe, não há de ser conjunção adversativa ou alternativa, nem tampouco conjunção meramente carnal. Há de ser, prometo, aditiva, sensitiva e platônica. É verdade que é subordinada! Subordinada a ti, minha querida Flor do jardim.